O Diário espanhol "La Vanguardia" publicou (04/10/2003) uma notícia que é interessante, pois retrata bastante bem a sociedade em que vivemos e trata de um tema que suscita comentários nas ruas. O título anunciava assim: "a roupa íntima aparece nas aulas".
A notícia comentava que em muitos colégios estavam surgindo autênticos problemas com a moda que se implantou entre os adolescentes, baseada, para eles, em calças muito baixas e muito largas que lhes mostra a roupa íntima de marca, camisetas enormes e tênis desamarrados com os cordões metidos nas laterais, entre outros detalhes.
É uma moda importada dos 'skatistas' e dos 'surfistas'. Para elas a roupa é bastante mais justa: calças muito justas e de 'pata de elefante', que se arrastam pelo solo, abaixo dos quadris, - com o que se revela a roupa íntima, que podem ser coloridas - tops ou camisetas minúsculas que habitualmente deixa descoberto grande parte do abdômen, e sapatos de plataforma.
O artigo não disse de onde foi importada esta moda. Em todo o caso, o que parece seguro é que tal moda não tem origem em nenhum esporte e, pelo que se depreende do artigo, é a 'estética' delas, e não deles, a que realmente está criando mais problemas. Uma vez mais são as garotas que ficam com a pior parte.
Continua a notícia assinalando que sobre a questão uma diretora de um colégio particular de Barcelona disse ao um grupo de pais em uma reunião de início de curso: "Isto não é um desfile de modas. As meninas vêm vestidas como se fossem a praia. Revelam tudo o que é revelável e, inclusive, mais, e não me tomem por antiquada. Isto é uma escola. Vir à escola passou a ser, entre um grupo de meninas, uma espécie de competição para ver quem é mais atrevida e quem usa os 'modelitos' da última moda, e isso não pode ser assim. Ou se moderam ou poremos uniforme. Isso eu mesmo disse as meninas".
Segundo o artigo, mais de um pai que assistia a reunião se mostrou realmente
surpreendido porque sua filha era uma das "desinibidas" na classe, mas de casa saía vestida distintamente. "Ainda bem que o inverno está chegando!", exclamou outro pai, segundo a notícia. Alguns professores também tinham algo a dizer: "não pensem em exceções - acrescentou um -, só imaginem-se no panorama de uma classe com quinze meninas vestidas como vocês as vêem em casa. Não somos de pedra!".
surpreendido porque sua filha era uma das "desinibidas" na classe, mas de casa saía vestida distintamente. "Ainda bem que o inverno está chegando!", exclamou outro pai, segundo a notícia. Alguns professores também tinham algo a dizer: "não pensem em exceções - acrescentou um -, só imaginem-se no panorama de uma classe com quinze meninas vestidas como vocês as vêem em casa. Não somos de pedra!".
O que foi comentado até aqui pode tanto escandalizar (a verdade é que a vestimenta já o faz!) como fazer sorrir ("são ocorrências próprias da idade!"). Mas, se paramos para pensar, não se trata de uma questão tão inocente quanto parece a primeira vista, pois tem causas e conseqüências muito mais profundas.
Até certo ponto é normal que um adolescente tente provocar para chamar atenção, imite seus companheiros e seus cantores favoritos, ou dê muita importância para a sua estética. Para ele é muito importante ser aceito no seu grupo. Nele está ocorrendo uma mudança física com uma rapidez que nem sempre está de acordo com sua evolução psicológica. Começa a ter idéias, gostos e interesses próprios que nem sempre coincidem com os das pessoas mais velhas. É a hora de começar a decidir por ele mesmo. Às vezes isto supõe uma perda de segurança e é questionada a autoridade paterna. Para preencher esse vazio buscará novas referências com as quais se identificará e modelará sua personalidade. Esta é uma fase pela qual todos temos passado e pela qual é necessário passar.
Mas não façamos confusão. A adolescência não é perigosa. Às vezes as posições pontuadas como conservadoras caem neste erro. Tampouco façamos como alguns progressistas que não se atrevem a afrontar o problema por medo, talvez, de parecer conservadores. O perigo existe e está nas referências com as quais o jovem se identifica, pois será de onde extrairá os valores (ou anti-valores) que regerão sua vida adulta.
Aqui a educação dada pelos pais tem uma importância fundamental. Os pais devem propor, e não impor, aqueles valores com os quais seu filho vai estar mais capacitado para enfrentar o resto de sua vida, tanto em seu âmbito intelectual, como espiritual e afetivo.
Para isso é necessário o diálogo, a tolerância, a autoridade, o carinho e, principalmente, muita paciência. Sou consciente que tudo isto é muito fácil de escrever mas que na prática é bastante complicado. De imediato costumamos carecer de um dos meios materiais mais importantes para poder por em prática o que foi dito até aqui: o tempo. A conciliação da vida profissional com a familiar de que tanto se fala agora é um grande desafio. Mas, sem dúvida, os pais devem esforçar-se para conseguir essa conciliação. Seguramente terão mil problemas para enfrentar diariamente, mas têm de buscar o tempo e ele só é possível com uma boa escala de valores, o que supõe: primeiro identificar quais são tais valores, o segundo, distinguir o importante do que não o é.
Se os pais não tem valores muito claros, tampouco poderão transmiti-los a seus filhos. E se os tem claros mas não dedicam tempo para transmiti-los a seus filhos, para que os querem? Não supõe-se que seus filhos são seu bem mais precioso?
Os pais que conseguirem inculcar valores em seu filhos, como a generosidade, a valentia, o esforço, a perseverança, saberão realmente como estão vestidos seus filhos fora de casa, e não ansiarão a chegada do inverno. Seus filhos terão segurança e coragem suficientes para realmente decidir por si mesmos, sem ver-se na necessidade de imitar um 'Sex-symbol' do momento ou as 'belezocas' da classe, que muito pouco ou nada lhes importará.
O artigo comenta que o mesmo problema tem ocorrido na França, e que na "liberal escola pública francesa está crescendo o debate sobre a volta ao uniforme e a separação dos sexos".
Mas não nos enganemos. O uniforme ou a separação dos sexos pode até ser um meio que ajude a resolver o problema, mas o essencial é que tenhamos alguns valores e saibamos passá-los aos adolescentes e, sobre tudo, que vivamos todos nós, adultos e jovens, em congruência com esses valores.
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